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Mundo virtual: do bem ou do mal?

É cada vez mais evidente a mudança que a tecnologia traz ao nosso cotidiano. Bastam alguns clicks e pronto: check-in feito, hotel reservado, felicitações enviadas, notícias verdadeiras (e falsas) postadas, compras feitas, novos amigos em rede, músicas, jogos, filmes e por aí vai... a este fenômeno de que tudo está ficando mais inteligente dá-se o nome de cognificação. Carros inteligentes, casas inteligentes, aparelhos inteligentes, serviços inteligentes. Mas e o homem? Está ficando mais inteligente? Apesar da imensurável quantidade de informação a que temos acesso na atualidade, nossa carga cognitiva está extrapolando e o QI geral no mundo está reduzindo. Sim, estamos “emburrecendo”.

Recentemente participei de um workshop de Dependências Tecnológicas – da diversão ao adoecimento, ministrado pela equipe do Ambulatório de Transtorno de Controle dos Impulsos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e constatei o que há muito vem me preocupando: está havendo uma mudança de paradigma nas relações, na maneira de se viver, na educação e no desenvolvimento infantil. Além disso, novas condições clínicas como dependência de celular e de jogos vem aumentando a prevalência, assim como suas comorbidades.

Este mundo 24/7 tão bem retratado por Jonathan Crary no livro de mesmo nome, juntamente com a geração de nativos digitais descrita por Jean Twenge em seu livro I Gen, nos remete a uma forma de vida conectada virtualmente 24 horas por dia 7 dias da semana, com jovens que leem menos, saem menos, se relacionam menos, são menos felizes, não toleram frustrações, são impacientes, menos motivados, sofrem mais de distúrbios do sono, ansiedade, depressão e suicídio. Não é à toa que as gigantes da tecnologia crescem tanto, considerando que os usuários de celulares já chegam a sete bilhões no mundo.

Estudos mostram que o uso de mídias é mais viciante que cigarro ou sexo. Bastam 8 minutos de uso que já se observa liberação de dopamina e ativação do sistema de recompensa que envolve também liberação de um tipo de endorfina, responsável pelo relaxamento e prazer. A partir daí se instalam as vulnerabilidades em resposta às tecnologias de persuasão: ilusão da livre escolha, gratificação com reforço intermitente e aprovação social, entre outras. É preciso pensar a respeito disto. Franklin Foer faz um convite a esta reflexão no seu livro O mundo que não pensa – a humanidade diante do perigo real da extinção do Homo sapiens.

Mas o principal motivo deste texto e, ao meu ver, o maior perigo, diz respeito ao uso abusivo, indevido e precoce da tecnologia por bebês e crianças com menos de três anos. Pensem comigo: se um jovem adulto, com seu cérebro maduro, já desenvolve dependência e sofre psicológica e psiquicamente com a exposição exagerada, imaginem o que acontece num cérebro em formação, que ainda não distingue o real do virtual, não tem sua rede de conexões neuronais definida e se encontra em plena fase de desenvolvimento de habilidades que envolvem a linguagem, uso de gestos, expressões, imitação, orientação social, interação, habilidades motoras entre outras.

Felizmente, já há uma grande quantidade de estudos e pesquisas realizadas e em curso para responder a estas questões e muitas já apontando para prejuízos no desenvolvimento motor e de linguagem, problemas de socialização, dificuldades escolares, aumento da ansiedade, violência, cyberbullying, transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas auditivos, visuais, posturais e até mesmo envolvendo a sexualidade em crianças e adolescentes quando expostas a tecnologia, sobretudo, antes de dois anos de idade. Sendo assim, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou uma Cartilha sobre saúde das crianças na era digital disponível no link https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2016/11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e-Adolesc.pdf

E procurando responder à pergunta do título, não se trata de demonizar o que está posto: a tecnologia está aí e ajuda a salvar vidas, facilita muito a nossa vida, porém é preciso buscar a medida certa e o bom senso para uso racional. O primeiro passo é a conscientização da sociedade, pais, educadores e profissionais da saúde para a educação e etiqueta digital. Fica aqui o alerta!

Aquele abraço!

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