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Equipe multidisciplinar em Saúde Mental

Minha querida equipe Glia incumbiu-me da tarefa de explicar o porque da equipe multidisciplinar em saúde com intuito de esclarecer familiares, responsáveis, professores e profissionais da importância da mesma. Lembrei-me da época em que comprei meu primeiro computador e jogava SimCity com uma amiga. Um jogo que tinha como objetivo construir uma cidade que funcionasse e tivesse sustentabilidade. O desafio era estabelecer estratégias para que a população crescesse e a cidade oferecesse as necessidades daquele grupo de pessoas. Desde o início era preciso recrutar funções executivas como planejamento e organização para que a cidade não capitulasse face às exigências e necessidades que surgiam. Preparava-se o terreno, instalava-se um gerador de energia – à escolha do jogador, rede de abastecimento de luz e água, pavimentação, agricultura, indústrias, moradias, escolas, hospital, prefeitura, bombeiro, comércio e por aí afora, de acordo com a administração. De repente, a cidade passava a ter vida própria, havia eleições, passeatas, protestos e assim, íamos dirigindo e crescendo, ou não, a cidade retrocedia caso não fossem atendidas as necessidades da população e perdíamos o jogo.

De certa forma, há uma certa semelhança no trabalho em equipe multidisciplinar. O paciente em questão seria a cidade a ser modelada, considerando que se apresenta com dificuldades no seu desenvolvimento global, são necessários especialistas nas diversas áreas do crescimento e desenvolvimento para habilitar suas funções. Desde a concepção e por toda a vida, as áreas cerebrais estão em contínua ativação para determinadas tarefas – inicialmente as áreas primárias – sensoriais e motoras - e posteriormente as áreas de associação, ou seja, as conexões entre as áreas primárias, secundárias e de maior complexidade, aferentes e eferentes. Imagine uma avenida principal com suas colaterais, do centro para os bairros e vice-versa e um fluxo constante entre estas áreas. Estas vias carregam informações das mais simples – visão, audição, tato, olfato, gustação, movimento – às mais complexas, como emoções, pensamentos, sentimentos, envolvendo inteligência e funções cognitivas nobres como memória, raciocínio, linguagem, flexibilidade, atenção, por exemplo. De maneira geral, a família representaria o administrador da cidade que procuraria colocar os recursos necessários ao crescimento e desenvolvimento para que o indivíduo alcance a sustentabilidade. Entretanto, quando este desenvolvimento não acontece a contento, é preciso identificar qual é o problema, onde está a falha, qual o mecanismo não está permitindo este funcionamento.

Neste momento, entra o papel do médico que busca identificar a falha ou prejuízo no desenvolvimento e através das informações da família, observação clínica e exames complementares, avalia e diagnostica o quadro. Este diagnóstico deve ressaltar as potencialidades e dificuldades da criança, identificar comportamentos mal adaptativos e comorbidades, elucidar o impacto da condição da criança na família e estudar as habilidades do desenvolvimento. Além disso, cabe ao médico orientar a abordagem terapêutica. Esta abordagem pode, conforme o caso, depender de tratamento medicamentoso, porém, em se tratando de saúde mental da criança, na maioria das vezes, envolve intervenções multidisciplinares que irão melhorar, grosso modo, funções motoras (fisioterapia), cognitivas e comportamentais (psicoterapia), de linguagem (fonoterapia), de aprendizagem (psicopedagogia), cuidados pessoais (terapia ocupacional) e orientação familiar (todas as intervenções). É como se tivéssemos que revisar e melhorar a estrutura da cidade no que diz respeito à pavimentação/tráfego, rede de luz, água, saneamento, comunicação, alimentação, oferta de serviços básicos, conselhos municipais, etc. O trabalho deve ser em conjunto (família, profissionais da saúde, educação, sociedade), visando um objetivo em comum (autonomia e funcionalidade do indivíduo) onde cada um tem o seu papel, sendo necessária a comunicação e cooperação entre os mesmos. Assim como cada cidade tem sua particularidade e um funcionamento próprio, também a abordagem multidisciplinar envolve um plano individualizado de tratamento que identifique as capacidades e desafios e evidencie as necessidades e habilidades que precisam ser alcançadas com a intervenção. “Bora” construir nossa cidade?!

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